26/10/15

"descobridores" em digressão, um espetáculo para bebés!

Depois de dias muito intensos, regressamos a um acerta tranquilidade, se bem que a s ideias não parem de fervilhar.

A estreia de "descobridores" leva-me em conjunto com a Vânia Kosta a um amplo entendimento da arte teatral para bebés.
Sem dúvida que este é um grande desafio. Os bebés chegam pela mão ou no colos dos pais, é um momento importante, fundamental.
Sente-se uma energia de esperança no ar! Uns momento antes do espetáculo começar os bebés estão desconfiados, aninham-se nos colos e nas saias dos seus pais, mas a pouco e pouco a conversa que se desenrola antes mesmo do espetáculo começar quebra um conjunto de barreiras, instala-se um energia de tranquilidade.
O espaço cénico está ao fundo, no palco e temos de atravessar toda a plateia para lá chegar, mas neste momento cenografia e iluminação criam uma imagem magnifica, o resplandecente ventre materno ao fundo.
Existe por momentos um deslumbramento! Conseguimos já provocar uma mudança de ritmo nos espetadores e ainda não entramos!



Um pouco na dúvida o publico aproxima-se do ventre, vamos entrar, e a entrada é poética calma e tranquila.
Os pais e as crianças acomodam-se, os mais pequenos não irão tirar os olhos de mim até ao final do espetáculo, enquanto os mais crescidos irão entre olhar-se reagindo muitas vezes em grupo.
Durante o espetáculo os pais vão intervindo suavemente, como que a dizer, nós estamos aqui, sente-se dentro do ventre uma grande partilha de afetos.
A narrativa vai-se desenrolando, com distintos estímulos e ritmos.
No final saímos em grupo, conforme entramos e vamos ao encontro da exposição sem perder o estado interior que trazemos do espectáculo e atravessamos o espaço expositivo de um modo mais livre...
Eu saio, sem que haja palmas, sem que dêem conta, sem dizer adeus, eu fui um momento nas suas vidas, e fico contente ao deixar para traz risos e uma alegria contagiante.


30/09/15

Descobridores a poucos dias da estreia!

Um ciclo que se encerra, um outro que se abre.
Faz um ano que embarcamos neste desafio de criarmos um espectáculo para bebés, hoje somos percorridos por esta onda avassaladora da estreia.
Um interlocutor importante foi sem dúvida a Artemrede, parceira deste desafio, criar para bebés, há alguns meses foi-me feita uma entrevista e uma pergunta ficou por responder.
Porquê teatro de marionetas para bebés?

Estamos a nível nacional perseguindo o desafio de promover a marioneta como uma linguagem ampla, veículo de linguagens contemporâneas, emergentes, performativas, fazendo parte da criação artística para o público adulto, desmistificando o seu lugar muitas vezes catalogado de linguagem para a infância.

No entanto o foco absoluto é o de ampliar a sua dinâmica e por isso esta arte é abrangente e serve ao artista como ponto de comunicação indiferenciado o seu espetador.

A Arte que envolve a infância é extraordinariamente aliciante, pois o processo emotivo sobrepõem-se ao processo intelectual, cria-se essa possibilidade, de marcar o carácter do espetador de dialogar emocionalmente.

Os pressupostos são alterados e quando se menciona a arte para bébés, existem várias questões a ser lançadas, e respostas a serem sentidas.

A marioneta é um interlocutor, na sua figura abstrata ou concreta a sua existência para o espetador está na linha ténue de  espaço ficcional, espaço real, o ator marionetista é um ser real e a barreira do espaço cénico inexistente. Trata-se de um diálogo real em constante interação.

A marioneta é um veículo real de apropriação de dinâmicas, ritmos, texturas emocionais muito concreta e direta.

Estamos a poucos dias da estreia, será cada espetaculo um desafio, uma constante procura de conquistar um momento em que a cena se reduz ao momento emocional que se transporta durante o espaço efémero do espetáculo, acreditando que num estagio tão inicial da vida do espetador serão deixadas marcas indeléveis da fruição artística,  do seu valor e caráter vital para o desenvolvimento de cada individuo.


18/09/15

Quem somos em "descobridores"

Quem somos
Filipa Mesquita (1976)
Filipa Mesquita nasceu no Porto em 1976 e é atriz, marionetista, encenadora, produtora e investigadora.
Fez o Curso de Interpretação na Academia Contemporânea do Espetáculo, o Curso de Marionetista pelo Programa de Conservação do Património Cultural e frequentou o curso de Arquitetura pela Faculdade Lusíada e o curso de História da Arte na Faculdade de Letras do Porto.
Tem formação em Serviços Educativos pela entidade Sete Pés e integra a direcção da UNIMA –União Internacional da Marioneta.
Em 1999 fundou o grupo de teatro Corifeu e, em 2002, fundou a Companhia Teatro e Marionetas de Mandrágora, onde trabalha também como diretora artística.
Na área do ensino, é coordenadora da área de Estudos da Marioneta na Escola da Marioneta desde 2012.

Vânia Kosta
Vânia Kosta nasceu em Braga em janeiro de 1980, tendo crescido com máquinas de costura em sua casa. Assim, com os materiais de costura e pintura disponíveis em casa e incentivada a explorar o universo à sua volta, naturalmente foi brincando com estes materiais e recursos da mesma forma como brincava com as bonecas.
Desde muito nova, Vânia Kosta gostava de oferecer às pessoas mais próximas algumas das personagens que fazia com pedacinhos de pano ou com pedacinhos de papel que ia encontrando.
E para se concentrar nesses momentos de criação, escondia-se dos crescidos e, quando dava por terminada a tarefa, corria até eles com um enorme sorriso e o olhar cintilante.

Depois de crescida, continuou a criar e a encantar-se com o sorriso das pessoas que recebiam as suas personagens. Hoje, é num recanto da sua casa-atelier que guarda os instrumentos a que recorre frequentemente para criar com entusiasmo diversas silhuetas de pano. Cosidas à mão ou com a companhia da máquina de costura, a Oliva, de quem nunca se separa. O simples gesto de criar tornou-se na forma de linguagem que encontrou para partilhar um universo salpicado de encanto. Deste universo, todas as personagens abraçam memórias e histórias que de uma forma encantadora nos falam através do seu olhar terno e sonhador.

Ficha Artística e Técnica de Descobridores

FICHA ARTÍSTICA
Criação e Interpretação Filipa Mesquita
Criação Plástica Vânia Kosta
Música de cena Fernando Mota e Rui Rebelo
Estrutura Cenográfica Hugo Ribeiro 

Iluminação de Cena: Hélio Pereira
Apoio à produção Clara Ribeiro 
Apoio à construção enVide neFelibata, Joana Domingos
Adereço José Machado

Coordenação da exposição Vânia Kosta 



CARACTERÍSTICAS DO ESPETÁCULO
Duração Espetáculo aprox. 40 min.
Lotação Máxima 55 lugares (20 bebés + 35 acompanhantes)
Público Alvo bebés (0 aos 2 anos) e crianças (2 aos 5 anos)
Faixa Etária dos 0 aos 5 anos
Género Artístico Teatro de Marionetas
Observações
As sessões devem ser organizadas de acordo com a faixa etária dos participantes:
Bebés (0 aos 2 anos) e crianças (2 aos 5 anos). No caso de irmãos com idades diferentes devem ser colocados na
sessão correspondente ao mais velho.
Depois do espetáculo os pais são convidados a visitarem uma exposição com os seus filhos seguindo o ritmo de cada um.





Razões para fazer "descobridores"

SOBRE O ESPETÁCULO 
“Descobridores” é uma viagem de sensações numa nova terra cheia esperanças, sons, imagens onde todos os dias são uma constante descoberta. O nascimento de um filho 
e os primeiros meses e anos de vida são uma constante descoberta, um encontro com seres, 
hábitos, cheiros, sons, sempre novos. Vamos ao encontro das maternidades das mães símbolo,
Portugal, Brasil, Africa, India, Timor e China, dos seus modos de embalar, de acariciar, de estar com os seus bebés, vamos ao encontro dos seus bebés das suas raízes e tradições, cores, cheiros, brilhos, sons, vamos ao encontro do ser mãe, trazendo elementos destas regiões. 
Em 2004 criámos o primeiro espetáculo para crianças de tenra idade, uma experiência que se foi desenvolvendo e amadurecendo no contacto direto com o público e que está junto das crianças desde essa altura. 

Agora voltamos a olhar para a criação para bebés. Quando começa a sensibilidade artística? Na minha opinião, desde o nascimento…E é aqui que começa uma grande viagem, olhando o mar, olhando a água. Imaginamos que, ao nascer, todos os dias, todos os momentos, são momentos de descoberta, onde cada sensação vai deixando uma leve 
impressão, uma leve marca na nossa forma de ser. 

 A CRIAÇÃO ARTÍSTICA PARA BEBÉS
Mais do que o aplauso, mais do que a crítica, eles olham, escutam, absorvem, interagem, intervêm, espantam-se, zangam-se, riem e às vezes choram. São emoções na flor da sua pele onde nada é o que parece ser e tudo é o que parece!
Nunca ninguém disse que seria fácil, e nunca pensei que o fosse!
Porquê descobridores, porque sim!
Porque acredito na formação de públicos, porque acredito nas capacidades e competências dos espectadores.
Porque fui mãe, porque sou mãe, porque não vivo sem criar. Porque o que me rodeia me inspira.
Porque me fascina criar para o jovem público. Porque me delicia a sua reacção, o seu olhar a sua espontaneidade.
Porque a minha técnica de trabalho por vezes está tão próxima do brincar, no símbolo, no objecto no lidar com a realidade.
Por tudo isto e muito mais, faz muito sentido ir à descoberta!

 O UNIVERSO PLÁSTICO
Interessava-me trabalhar o tecido neste projecto, porque o tecido é confortável, moldável, maleável, manipulável, porque me lembra as bonecas de pano e os fantoches, porque é uma matéria diversa e múltipla nas texturas, cores possibilidades e potencialidades.
Conheci à alguns anos a artesã|artista plástica Vânia Kosta e senti que havia no seu universo criativo todas as características que me conduziam a esta exploração.
Porque o seu olhar é sensível, as suas mãos delicadas, o seu pensamento poético e a sua criação apaixonada.
Esta ideia germinava à medida que a minha barriga ia crescendo.
















Musicas estrutura provisória "descobridores"

MUSICA EXPOSIÇÃO

01 SONHO, EMBALAR DAS ONDAS, VIAGEM PELAS CULTURAS

MUSICA ESPETÁCULO
01 - ENTRADA
02 - PORTUGAL - MUSICA DOS ABRAÇOS
03 - O GATO E BITÓRIA
04 - O MAR
05 - O BRASIL TERRA
06 - CANÇÃO DAS MÃOS
07 - PASSARO MAR
08 - EMBONDEIRO, TERRA
09 - JOGO
10 - MAR DE BRINCADEIRA, AS ESFERAS
11 - INDIA, PES MÃOS ZEN
12 - MAR DA TRANQUILIDADE
13 - DRAGAO DO CAOS
14 - ING-IANG
15 - NOITE
16 - SAIDA DO SONHO 

Guião provisório Descobridores

Descobridores
Estrutura do espectáculo


Inicio

No átrio da entrada do teatro, fora do espaço cénico.
MUSICA(som da praia, pequenas ondas a chegada, o cuidado ao embalar)
Embalar
Deambular com o bébé (marioneta, fantoche) pelo espaço, mãe que embala o bébé,

DIÁLOGO
A Mãe começa por falar calmamente aos pais e aos bebés.
Conversa com pais, calma saborear, sem pressa o espaço
Mãe    Entre o espectáculo e o nascer, entre aprender, pai, mãe, filho, filha, eu o outro.
Partilharmos este momento em conjunto.
Vamos fazer uma viagem, ela já começou, no momento em que eles apareceram nas nossas vidas.
- se tiverem de sair saem e voltam a entrar
É pedido aos adultos e jovens que retirem os sapatos
MUSICA Som de tranquilidade, mar, embalar, sonho, mãe, bebe ao colo, agua,
ENTRADA
Mãe entra primeiro, Dorme a bebé Bitória, a mãe está sentada no chão embalando e observando o espaço que a rodeia, a bebé dorme.
Entrada dos bèbés e de seus pais, Chegam ao colo os bebés ou pela mão dos seus pais.
MUSICA a mãe canta a musica de embalar a Bitória num acordar calmo suave e tranquilo
A mãe dá abraço
Com o braço
O braço que abraço
Um abraço
Dentro dos braços
Abraços
Nos teus braços


A primeira criança, acordar, sons, ser embalada, acariciada, abraçada.
Sons e não palavras, gestos.
MUSICA terra, menina
ESPAÇO
O ventre, tenda, iglo, geodésico, barriga, céu, cúpula
Luz controlada, ambientes azuis,
MUSICA sons de mar agua, ondas, mar rio regato ribeiro, fonte, gotas,
Atravessam uma porta que terá texturas e transparências.
PORTA DA VIAGEM define a entrada
VIAGEM DOS DESCOBRIDORES
Os pais com bebés sentam-se dentro da estrutura cenográfica no chão, os restantes pais em bancos na cenografia,
O momento de chegada deve ser saboreado com se fora o embalar.

CENA 2
A mãe está no espaço. Embala e observa O seu figurino, como se fosse uma suave manta de retalhos, uma mãe terra, uma mulher árvore, uma mãe de àgua.
Este momento remete para a agua, para o ventre materno, o mais tranquilo, calmo
MUSICA sussurrado, embala a agua, os braços o som do mar.
O espaço cénico é um mundo|ilha| terra|mar. Vemos, cores texturas e elevações, montanhas e mar dispostos de modo a que se faça semi círculo.
MUSICA O som do mar|agua, aguas constante ao longo do espectáculo.
Por cima do público a copa da noite, alguns mobiles|objetos, estrelas, mundos aéreos desta viagem. Os círculos presentes
O ACORDAR
O espectáculo começa com o acordar da bébé bitoria contacto com a mãe
É o bebé Portugal a menina Bitória,
Há um gato, com ela vem também um gato, já lá estava.
MUSICA musica do gato
Miau fu miau
Acorda, mãe jogo, gato, galinhas, suave calmo, do chão para cima, do centro para trás.
É a menina do contacto dos afagos e dos mimos, a mães dos abraços e dos braços, a mãe. Mãe e bebé.
Mama
O GATO
O gato, o animal, o instinto, o olhar é dirigido para fora desta família, a menina não vê o publico. Mãe, menina gato.
Os três viajam, mar… o gato tem medo da agua.
A menina gosta dos afagos do gato. O gato leva-a à descoberta,

CENA 03
Nasce BrasiLIS
MUSICA mo mar do Brasil, samba.
Lis canta
A mão da mãe na minha mão
A mãe dá a mão
A minha mão na mãe
Em mim a mão da mãe
A mãe dá a mão
Dá a mão, mãe
A mão na mãe
A mãe dá a mão
É minha a mão
É minha a mãe
A mão da minha mãe

O samba a festa, as ondas, a mãe que acompanha, a mãe grande
O mar abre-se, tecido e a viagem continua,
O mar é um regresso a um estado de tranquilidade.
Surge o brasil a bebé brasil, a dança, as interrogações, a descoberta, aberto, a dança, o pássaro, a mãe baiana, o calor, o samba, a mãe aberta, ampla e grande, a mae popular.
Popular, festa. Passaro a voar, viagem, as mãos.
A mão da mãe, a minha mae, a mae tem mao, é minha a mão a mae e minha, a mae dá a mão. A mão da mae na minha.
Espaço, vertical, o passaro voa para fora do circulo, território

CENA 4
O mar abre-se e a viagem continua,
O mar é um regresso a um estado de tranquilidade.
O mar leva ao chão a terra.
CENA 5
Nasce rapaz africa
Uma dança que vai para o chão, de onde sai o menino da terra, o menino mãe trabalho. O brincar, a dança chão, a terra a terra. Menino que nasce das raízes.
Mãe que carrega menino. Menino brinca. Menino negro.
Cresce a arvore, estrutura de cenário que cresce do chão para o topo, o embondeiro em tecido, mae abraça a arvore. O menino brinca com as raízes.
A menino foge da mãe, em jogo, a mãe jogo com o filho.

CENA 6
O mar abre-se e a viagem continua,
O mar é um regresso a um estado de tranquilidade.

CENA 7
Nasce Timor
O bebé Timor, nasce da arvore, do menino de Africa da terra para o jogo, para a dinâmica intensa de brincadeira, do vai e vem da partida e do jogo.
Os bebés Timor e Africa jogam juntos. Com galhos com arvore com mãos.
MUSICA Timor – A cor, a canção de jogar, a lenga lenga  aparece o crocodilo o crocodilo é bola de brincar.
Jogo de fantoches
Mae fica zangada, meninos querem sair.
CENA 8
O mar abre-se e a viagem continua,
O mar é um regresso a um estado de tranquilidade.

CENA 9
India – os panos de cor, as cores, o elefante, os sinos, as moedas das saias…
Transparências..
O bebé India, as mãos, a pausa a tranquilidade o zen, o movimento de harmonia entre bebé e mãe.
A mae tem maõs e pés, os pes danças, os panos flutuam e aparece o elefante, o menino paira no ar leve, sai da ilha pousa os seus pes no chão.
Os panos atravessam as cabeças dos meninos do publico.
MUSICA Musica da mae, mantra, respirada, agua da trmba do elefante, paira, guizos nos pés dança dos pés e das mãos.

CENA 10
O mar e o ceu… Começa a anoitecer.

Cena 11
A verticalidade de Macau
Macau, o caminhar a respiração, a concentração, tai-chi
O movimento do caos do dragão, o ing e o iang
Aparecem as sombras, o dragão chines, a sombra chinesa. O dragao é animal o caos a desordem, a cor a força e a intensidade.
MUSICA contraponto entre os sons do dragão que lhe dão o movimento ( ver dança do dragão) e a menina que o acalma e nos acalma.
De dentro dele nasce Macau a menina serena, calma e tranquila, jogo de ambos.
Leva a menina a voar pelo espaço. É noite, mobiles.

Cena 12
O mar abre-se e a viagem continua,
O mar é um regresso a um estado de tranquilidade.

Cena 13
De regresso a Portugal
A noite, o embalar, A canção sonho
O sonho, espaço onírico de mar, viagem, final com ritual de saída…
Aparece bitória
O ceu enche-se de estrelas, é noite, embalamos os bebés, o obejtivo é conseguir que eles fiquem num estado de contemplação (quem sabe se algum seria capaz de dormir)
MUSICA canção de embalar, não há fim a mãe sai e leva os pais consigo num estado de calma interior.
Cena 14
A saída
A intenção é a de viajar ao longo destes territórios dando algumas música e algumas ambiências de cada um formas e modos como as mães lidam com os seus bebés, modos de embalar, modos de cantar canções de embalar. modos de viajar, de aconchegar…
A intenção é a de solicitar aos pais presentes o apoio ao longo do espectáculo, dos seus pés e das suas mãos, mãos que abraçam, pés que são bonecos, mãos que acariciam, mãos que afagam, e afastam, mãos que manipulam.
Um último momento será a noite, as estrelas, o embalar como se fora uma viagem de barco nos abraços dos pais.

Cena 15
A exposição
MUSICA som do mar 1,2,3
1 Expositor 1 – túnel menina de Portugal e brasil partilham do espaço
2 Expositor 2 – Túnel oriente e india
3 (este expositor tem a forma de um parque para bebés convidando o público a deitar e olhar para o teto do expositor onde estará a noite) seria interessante integrar sons dentro do tapete do chão e das almofadas, histórias???







Descobridores

designação Descobridores
público alvo a partir do 0
duração aproximada 30 mns

Chegam pelo mar os descobridores. Recebidos pela mãe-ilha, viajam pelo embalar dos abraços. Em cada terra nasce um menino, em cada terra nasce uma mãe. Em Portugal o galo canta, no Brasil os pássaros voam e a mãe é grande, em África a mãe é chão, é terra, na Índia as mãos e os pés da mãe brilham e agitam--se de sons, em Timor a terra é um crocodilo que nos leva a jogar, na China os dragões saltam e a mãe tem mãos que dançam, tocam e embalam.

Um espetáculo que é também Terra de cores, cheiros e sons, a descobrir com os pais e com aqueles que nos embalam.









04/08/15

Bibas na viagem Medieval de Santa Maria da Feira

Estamos de regresso à Viagem Medieval de Santa Maria da Feira
São já dez anos  a participar neste evento, sempre aliando história, pesquisa, teatro e marionetas.
Este ano falamos da "Breve história de Portugal", onde se apresentam as histórias dos 5 primeiros reis portugueses narradas por jograis.

Bibas é a marioneta que integra o espetáculo, uma marionetas de fios construída integralmente em madeira, com uma cruzeta de 15 fios à qual adicionamos um conjunto de varas extra para executar alguns movimentos como o pino e o movimento de andar para trás.
É o segundo ano que trazemos o " Dom Bibas", personagem inspirada no que se crê ter sido o primeiro bobo das cortes portuguesas, do próprio Afonso Henriques.

A marioneta tem certa de 70 a 80 cm de altura e sendo integralmente esculpida em madeira é relativamente pesada.
A construção foi coordenada por enVide neFelibata e  destaco sem dúvida a cor do figurino e estrutura da marioneta ter sido dada pelo tipo de madeira escolhido para a escultura, não existindo qualquer pintura.
O pormenor dos calções  terem pedacinhos de osso para dar a tonalidade branca acaba por trazer algo que apesar de não ser perceptível fica impresso no adn da marioneta.

pés - 2 fios
joelhos - 2 fios
bacia - 1 fio
ombros - 2 fios
cabeça - 2 fios
mãos - 6 fios





28/06/15

Bzzzoira moira

Ontem estivemos em Sever do Vouga, na Feira do Livro.
Apresentamos "Bzzzoira moira", que belo jardim, que bonitos espaços, ali no jardim, pais e filhos espreguiçaram no relvado onde pairava a sombra e saborearam mais uma representação de "Bzzzoira moira".
Cada vez mais se aproxima da representação nº 150, em meu ver um feito, uma experiência por que deviam passar todos os que fazem do palco o seu modo de dialogar com a sociedade.
Creio que não irei abandonar este espetáculo nos próximos anos, gosto dele, da sua narrativa, da sua história, do modo como lido com o público, da forma como distintos sentimentos emergem ao longo do espetáculo.

Apesar de afirmar que este é um espetáculo simples, é na sua simplicidade que reside o seu momento mais perfeito. Creio que ainda existe um longo percurso a fazer.


26/06/15

Castelo de Guimarães projeto Educativo

Depois de meses de diálogo deu inicio a mais um projeto Educativo que se vem somar aos já implementados pela companhia em diversas instituições do país desde 2003, alguns extintos outros com grande implementação nas instituições.

Teatro Educativo no Castelo de Guimarães

Direcção Artística
Clara Ribeiro

Estrutura
envide neFelibata

Cenografia e pintura
Migvel Tepes

Marionetas
Filipe Coelho, enVide neFelibata e Clara Ribeiro

Figurinos
Dona Pata

Vozes
Clara Ribeiro e Filipa Mesquita





Este ano foi já apresentado no dia dos Museus, a 18 de Maio na Casa de Camilo Castelo Branco
"Amor de Perdição" uma lindíssima novela desta feita radiofónica com a presença de grandes vozes dos anos 50 e 60.
A aposta foi desenvolver o Teatro de Papel, teatro de figuras planas.

Agora no Castelo de Guimarães, algumas iluminuras e desenhos do período medieval serviram de inspiração para a criação de figuras de vara e cordel que nas mãos do Serviço Educativo será apresentado aos visitantes.


Querem observar alguns dos nossos Teatros Educativos
Aqui ficam os locais onde podem ser encontrados:

Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco de Vila Nova de Famalicão - Vila Nova de Famalicão
Casa Museu de Camilo Castelo Branco - Vila Nova de Famalicão
Centro de Educação Ambiental de Esposende - Esposende
Centro de Estudos Camilianos - Vila Nova de Famalicão
Mosteiro de São Martinho de Tibães - Braga
Museu de Alberto Sampaio - Guimarães
Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim - Póvoa de Varzim
Museu Nacional de Machado Castro - Coimbra
Residência Senhorial dos Condes de Castelo Melhor - Ansião

19/06/15

A Farsa do Mestre em cena na Casa de Gramido

27 JUN. | TEATRO FARSA DO MESTRE PATHELIN

pelo Teatro e Marionetas de Mandrágora
18H00 // CASA BRANCA DE GRAMIDO // M6

Org: Câmara Municipal de Gondomar e Teatro e Marionetas de Mandrágora

Este espetáculo é uma comédia de enganos, onde as personagens revelam o seu carácter corrupto através do negócio de um pano que não valia o que o mercador pedia porque os carneiros do qual tinha sido feito foram mortos pela pastora que fez um negócio com o advogado para enganar o mercador que tinha sido convidado pela mulher para comer um pato que ainda estava no ovo e beber um vin
ho que ainda estava na uva. Todas estas confusões e enganos levam todos a ganhar e a perder...

"Bzzzoira Moira" em Sever do Vouga

Dia 27
17h00
Jardins da Biblioteca Municipal de Sever do Vouga

Bzzzoira Moira

Mais informações em


www.cm-sever.pt/biblioteca



Dia 22 de Junho
Férias na biblioteca

9h30
Workshop Olhapins Olharapos

16h00
Espetáculo "O gato e o Rato que se tornaram amigos"

Para Mais informações
Biblioteca Municipal de Gondomar
BIBLIOTECA MUNICIPAL
T 224 664 770


27/04/15

descobridores em construção, teatro para bebés!

"descobridores"
a descobrir...
Produção Teatro e Marionetas de Mandrágora
Co produção Artemrede
Criação Filipa Mesquita
Criação Plástica Vânia Kosta
fotografia Vânia Kosta













14/04/15

Criar para bebés!

CRIAÇÃO DE PUPILA D´ÁGUA- REVISTA LAZARILLO

Artigo de Carlos Laredo para a revista espanhola “Lazarillo”. O artigo fala da gênesis do primeiro espetáculo da companhia “Pupila d´água” e da relação do público adulto com o teatro para a primeira infância.
09080009
Olhando pelo retrovisor do tempo, eu me pergunto sobre o contexto que deu inicio ou que nos estimulou a fazer Teatro para a Primeira Infância. Como muitos adultos, eu teria assinado embaixo ou afirmado há anos o que em geral muitas pessoas apontam hoje, o que se dita de forma oficial ou o que se transmite pela corrente popular assimilada de antemão. Sabemos que para qualquer assunto encontraremos opiniões para todos os gostos e cores, mas podemos destacar que o que fomos percebendo no nosso trabalho sobre a opinião que desperta a primeira infância está ancorada em um aparente consenso coletivo.
Através de um pequeníssimo mostruário de frases, recolhido diariamente ao longo de 11 anos, antes de que cada apresentação, pudemos observar opiniões, que sem ter vocação estatística ou científica, nos aproximam talvez a entender o porquê não se tinha pensado a Arte para a Primeira Infância até bem pouco tempo atrás. Estas frases, incluídas aqui por seu caráter repetitivo e tomadas em distintos países e contextos sociais, com pessoas de diferentes idades, meios culturais, educativos e econômicos, ilustram de um modo superficial a idéia generalizada que se têm sobre os bebês. Elas refletem o modelo social em que vivemos. Seria necessário lê-las com veemência, como se fossem verdades peremptórias, indiscutíveis, evidentes e básicas , pela forma e tom assertivos que estas afirmações são expressadas, sobre o que pensamos quando falamos de bebês.
Assim nós as escutamos:
– “Mas o que se pode fazer com um bebê, se os nenens não entendem nada ?”,
– “Bom, na verdade, o que eles têm é apenas uma percepção sensorial do mundo que os rodeia.”,
– “O que vocês fazem? Ruidinhos e luzes coloridas ou coisas assim?”
– “Está claro que os bebês não podem entender nada como um adulto sim entende! ”,
– “ Bom, a nível sensorial tudo bem, mas o resto…”
– “Nascem como uma página em branco, e logo vão aprendendo a falar, a caminhar, a pensar, etc; depois vão aprendendo tudo, mas quando nascem não sabem nada. Não vejo o que se pode fazer com eles. Não consigo imaginar nada mais além do gugu dadá…”;
– “Um bebê não sabe falar, então o que ele vai entender? Não pode entender o que entende um adulto.
– “…a um bebê não se pode mostrar nada dramático porque poderiam se traumatizar”,
– “… são pedaços de carne com olhos, uns animaizinhos. Até que começam a falar e são capazes de raciocinar, de argumentar, claro.”;
– “Bom, os outros, eu não sei. O meu, o único que faz é chorar, comer, fazer cocô e dormir.”
– “Gente, um bebê não é capaz de pensar por si mesmo”;
– “ Está claro que os bebês aprendem por imitação dos adultos, porque não sabem nada, aprendem a falar imitando seus pais, seus avôs, ou o que escutam na rua…”.
Ou frases que pelo contrário definem o modo de ser, caráter e a conduta das crianças de menos de 3 anos de forma indiscutível (ditas muitas vezes e sem limite pelas mesmas pessoas que negam qualquer capacidade do ser humano quando nasce):
– “É que meu filho (de 9 meses) é impossível”,
– “Não é capaz de estar quieto”,
– “Não é capaz de se concentrar em nada”,
– “É muito bobinho”,
– “Atento? Sem fazer nada por 30 minutos? Eu o conheço e te digo que é impossível!”,
– “Não acredito que se comporte bem!
Muitas pessoas afirmam sem parar para pensar no que significam realmente estas frases, no que transcendem e em que medida bloqueiam o potencial de desenvolvimento da sociedade. Outras, simplesmente não concordam em absoluto com elas. Mas o debate não se abre no seio da sociedade a nenhum nível, porque talvez se o fizéssemos seriamente, com o conhecimento científico que temos hoje à mão, poderíamos colocar em perigo todo o modelo econômico, educativo, social e cultural que construímos. Seria necessário revisá-lo todo. Essa desconfiança que se semeia na primeira infância recolhe seus frutos na adolescência, e perpetua muitas âncoras sociais pesadas, difíceis de se desvencilhar.
Assim, aparece também a definição no dicionário da Real Academia Espanhola (RAE), quando propõe que o uso da razão é a “Posse natural do discernimento, que se adquire passada a primeira infância”.Contraditoriamente, o mesmo grupo social que afirma, legisla e projeta nesta direção marcada pela desconfiança das futuras gerações, se ufana de ser a sociedade mais avançada e evoluída da Historia da Humanidade.
09080061
Mas, voltemos ao pequeno espelho retrovisor. Antes de fazer, tive a oportunidade de programar e antes de programar, tive a oportunidade de ver, e pouco antes tive a oportunidade de descobrir. Neste instante inicial, neste instante zero, houve um momento de amor indescritível, de ruptura com os moldes e as certezas. Foi um momento de visão lúcida das infinitas possibilidades que se ofereciam em uma só. Eu estava sentado, vendo um espetáculo na França para crianças menores de 3 anos. Era L´air de l´eauda companhia Théâtre Athénor com Brigitte Lallier e Laurent Dupont em cena: um dos espetáculos pioneiros deste gênero no mundo. Naquele momento, senti que vários pilares inalcançáveis da poética teatral podiam se encontrar por causa dos espectadores. Me arrepiei e três lágrimas caíram sobre o papel que tinha na mão. Fiquei sem palavras! A arte era possível porque os recém-nascidos a faziam possível!
Se o zero foi este momento de descobrimento de algo latente, para ver que era possível abrir um novo território de exploração, o Um poderíamos dizer que foi Pupila d´água, e depois A Geometria dos SonhosO Circo Incierto, Desenhando LabirintosAndaNa ponta de língua, Si tú no hubieras nascido, Quien era yo antes de ser yo, Café Frágil e todos os espetáculos que ainda esperam para ser colocados em pé…
Pois bem, justo depois de descobrir o Teatro para bebês, eu me empenhei em compartilhar minha fascinação com os que faziam Teatro para Crianças. Pensei que se estavam próximos à infância, poderiam entendê-lo melhor. Não percebia o grande erro que estava cometendo. Contava a companhias, empresários, distribuidores, produtores, programadores e outros “ores” de todos os lados deste país. E aos poucos artistas que fui conhecendo. Meu entusiasmo era proporcional à indiferença que gerava meu discurso: quanto mais entusiasmo, mais indiferença. Contava a amigos e pessoas próximas como um apaixonado que crê que todos estão como ele. Pus a disposição os meios, propondo colaborações ou co- produções a todos aqueles que me pareciam poder criar para bebês, com toda a infra-estrutura do poderoso festival que dirigia então: Teatralia. E nada! Fracassei fragorosamente. Zero. Talvez não tenha sabido explicar- lhes, talvez não tenha podido transmitir… Era tão evidente! E não consegui tocar a ninguém. Em três anos, não consegui que nenhuma só companhia espanhola de Artes cênicas, plásticas ou musicais quisesse se aventurar a criar para bebês.
Entretanto, eu seguia cada vez mais apaixonado que nunca por aquela impossibilidade. Por muita terra e água que pusesse à disposição, ninguém tinha as sementes, e o que é pior, ninguém parecia querer tê-las. Os argumentos que meus colegas me davam para dizer que não, mostrando resistências e medos, eram tão educados como reiterativos. Todos nadavam nas águas básicas da sobrevivência. Não era tentador nem como disparate artístico. Me diziam que com uma lotação tão limitada não se podia trabalhar, que nunca se chegaria nunca a cobrir os gastos, que não havia circuito para difundir o trabalho, que os programadores não o entenderiam ou que nunca sobreviveria… Que se faria em Teatralia e ponto. Atrás destas justificativas, respirávamos o mesmo ar de incredulidade com o que costumam chegar os adultos a ver os espetáculos para bebês. Pensavam de uma maneira mais ou menos acentuada o mesmo que os espectadores, que antes descrevia com suas frases, perguntas capciosas ou sentencias difamatórias.
Assim, conformei- me durante um tempo em fazer experimentos com artistas que não tinham feito nada para bebês, e que não o tinham concebido como tal para a primeira infância. Aceitaram o desafio e me agarrei às intuições. Vi que funcionavam, que poderia apresentar o trabalho de diferentes artistas a bebês e serem eles que ficasse arrepiados e com a alma tocada. Foi o caso do músico Pedro Esteban ou dos músicos de Jazz que fui buscando por Madri, para citar alguns exemplos iniciais. Recuperaram o gosto por interpretar porque seu auditório do café de jazz para crianças ou os de Pedro Estevan, estavam compostos por um especial viveiro de ouvintes: os bebês (recomendo a leitura dos textos da neurólogaSandra Trehub no estudo da incidência da música nos bebês para entender de que falo). O público os escutava! Assim, segui programando espetáculos que vinham principalmente da França e de outros países com menos medo de provar algo novo.
E chegou o ano 2001, com a criação da companhia La Casa Incierta, com o trabalho com os artistas Azufre e Cristo, e logo com a incorporação da atriz que encarnou o espírito de todos os trabalhos para a primeira infância que realizamos até agora, a que me levou a ser menos gestor e mais “gestador”, a que descobriu que a linguagem da comunicação com os bebês está feita de muitas mais coisas que de códigos binários compostos de zeros e uns, a que se deixou atravessar pela maternidade e com o fio que descobre as capas infinitas da primeira infância, a que soube definitivamente traduzir a experiência diária em cima do palco e transformá-la em desafios permanentes, que nos levaram cada vez mais longe para estar cada vez mais perto dos recém-nascidos. Falo de Clarice, de Clarice Cardell.
aaer
Logo, nasceu nossa filha Gabriela. Gabriela foi, com seu nascimento, a que nos empurrou a criar Pupila d´água. E é que a Humanidade não criou nada tão impressionante como a gestação e o nascimento de um ser humano. Nunca! É um mistério que funda mitologias, religiões (seja de teosofias matriarcais ou patriarcais), grande parte do estudo da Ciência ou da Filosofia, e dos cultos pagãos que fundam a Arte. O culto do mistério do nascimento do ser humano é o epicentro de qualquer Cultura e marca, como uma cara da mesma moeda, o culto da morte.
Em Pupila d´água se sintetiza de maneira sutil o que Irina Kouberskaya nos ajudou a potencializar e desenvolver desde o primeiro momento, junto à atriz e cantora Fernanda Cabral. Fernanda soube criar, aninhar e acompanhar todos os elementos essenciais da obra. E principalmente, graças à sua experiência em várias disciplinas da arte, soube “traduzir” a expressividade dramática na passagem de uma linguagem a outra. Constatamos que nesta obra estão as sementes de todas as que fizemos depois. Antes de começar a ensaiar, partimos sempre da premissa de não saber o que é um tenro infante, e é por esse motivo que durante 10 anos, sempre estivemos visitando de forma permanente crianças de 0 a 3 anos em creches.
As “verdades”, que havíamos escutado (inclusive no seio das próprias creches) ou lido em livros de psicologia ou de psicoanálise em relação à infância, foram sendo derrubadas como castelos de areia quando sobe a maré. Pupila d´água bebia das linguagem transfiguradas, onde dizíamos o mesmo, mas de modo diferente, seja com palavras, com língua de signos, com dança ou com linguagem de objetos. Com Pupila, descobrimos que o espaço de comunicação tem um elemento essencial que é a água. A água que portamos nos corpos e a água que em forma de vapor umedece todo o ar, por mais seco que esteja.
Poderíamos dizer muitas coisas sobre a água, porque tem uma importância essencial, se queremos levar um pouco mais além as fronteiras do nosso entendimento. Água, porque somos um percentual muito alto de água, e não importa se falo do bebê ou do adulto. Não em vão, o ser humano se gesta no líquido amniótico que não é outra coisa que água, urina e algumas proteínas. Água com uma alta concentração salina, como o mar. Se ao lançar uma pedra na água, podemos ver as ondas que se transmitem concentricamente, e ou que se deslocam como uma espiral helicoidal ( como os tubos dos surfistas), nos parecerá fácil entender que a vibração de um violoncelo ou de uma percussão possam fazer vibrar a água que porta um bebê por todo o corpo, com formas geométricas, tão harmônicas ou melódicas como a vibração da água ou como a da música.
Concedemos à musica muitas vezes a qualidade de não ter que passar necessariamente pelo crivo do entendimento. Como se as palavras não fizessem vibrar o ar e a água em virtude de sua intensidade, volume e intenção. Como se além do entendimento não fosse a exaltação da água do corpo, a que nos permite expressar as emoções através das lágrimas que produz o pranto ou do ar prenhado de água que porta o riso. Como se a estrutura molecular da água não variasse em função da energia que recebe. Como se não variasse em virtude dos fótons que vêm que sol.
E é que o diálogo secreto entre as atrizes e o bebês em Pupila d´água é tão ritual como a hora do banho diário, onde a felicidade extrema e o amor multiplicado se encontram. A hora mítica ou mitológica, como a estrutura arquetípica que os bebês portam em sua memória genética e na arquitetura de seu funcionamento evolutivo. Não paramos para nos questionar o que o bebê no momento do banho entende para ser feliz…
O que necessitamos entender da água, das pedras, do fogo ou da luz e do ar, se nos reconhecemos feitos desta mesma matéria? Poderia me estender longamente para tratar de expor a profundidade, complexidade e potencial que o ser humano tem ao nascer, mas não seria mais interessante saber o que acontece no mundo vasto e infinito que desconhecemos? Não é a aventura ao desconhecido que garante que o artista não está se copiando a si mesmo ou a outros? Se o que acontece não o desconhecemos, então que interesse poderá haver em descobrir algo novo, algo que inclusive não poderíamos chegar a entender?
09080049
Hoje, quando olho no retrovisor destorcido pela equação do espaço e tempo, fizemos como companhia mais de 1500 apresentações nos últimos 10 anos, e o Teatro para Bebês nos deu para viver e para pagar todas as contas. Todos os vaticínios de nossos colegas não só não se cumpriram, como se baseavam em suposições e cálculos equivocados. Igual que erradas são ao frases dos indivíduos que colocamos ao princípio, e que escutávamos antes das apresentações. Ao acabar as apresentações, os mesmos adultos que diziam estas coisas, ficam sem palavras, perplexos como seus bebês estavam absortos ou entregues. E os filhos desmontam em menos de 40 minutos, toda a bateria de preconceitos com que eram julgados previamente por seus pais ou por seus educadores.
Amanhã de tarde, o espetáculo, que segue mais vivo que nunca, será montado e apresentado duas vezes mais. E já são 563 vezes que o fazemos, e voltamos a fazê- lo como se fosse a primeira vez. A peça se difundiu em países como Espanha, França, Martinica, Holanda, Alemanha, Itália, Portugal, Bélgica, Russia e Brasil. O poema de Pupila não ocupa mais que uma folha. Mas hoje como ontem, seguimos descobrindo novos matizes e formas de vê-lo e interpretá-lo. Os bebês nos ajudam a ver que cada instante é infinito, tal e como o demonstram os físicos quando nos comprovaram matematicamente que o infinitamente macroscópico está contido pelo infinitamente microscópico. Talvez porque, da mesma forma que os bebês, o poema de Pupila d´água está pensado com números irracionais, números com infinitos decimais, entrelaçados de geometrias que vão de um lado ao outro em dois hemisférios do cérebro. O bebê utiliza todo seu cérebro com mais velocidade e criando muito mais sinapses novas que o adulto que o acompanha. Trançará e tensará os dois hemisférios do cérebro para viajar até o que desconhece, até os limites de todas suas fronteiras, que são todas de seus antepassados, e irá além de sua evolução, para se aproximar do entendimento profundo da matéria e viajar, inexoravelmente até a casa incerta que surge no horizonte e que nunca chegará a ser alcançada totalmente… por muito que nos aproximemos.
Carlos Laredo. Valdemorillo 25 de fevereiro de 2011.