14/04/15

Criar para bebés!

CRIAÇÃO DE PUPILA D´ÁGUA- REVISTA LAZARILLO

Artigo de Carlos Laredo para a revista espanhola “Lazarillo”. O artigo fala da gênesis do primeiro espetáculo da companhia “Pupila d´água” e da relação do público adulto com o teatro para a primeira infância.
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Olhando pelo retrovisor do tempo, eu me pergunto sobre o contexto que deu inicio ou que nos estimulou a fazer Teatro para a Primeira Infância. Como muitos adultos, eu teria assinado embaixo ou afirmado há anos o que em geral muitas pessoas apontam hoje, o que se dita de forma oficial ou o que se transmite pela corrente popular assimilada de antemão. Sabemos que para qualquer assunto encontraremos opiniões para todos os gostos e cores, mas podemos destacar que o que fomos percebendo no nosso trabalho sobre a opinião que desperta a primeira infância está ancorada em um aparente consenso coletivo.
Através de um pequeníssimo mostruário de frases, recolhido diariamente ao longo de 11 anos, antes de que cada apresentação, pudemos observar opiniões, que sem ter vocação estatística ou científica, nos aproximam talvez a entender o porquê não se tinha pensado a Arte para a Primeira Infância até bem pouco tempo atrás. Estas frases, incluídas aqui por seu caráter repetitivo e tomadas em distintos países e contextos sociais, com pessoas de diferentes idades, meios culturais, educativos e econômicos, ilustram de um modo superficial a idéia generalizada que se têm sobre os bebês. Elas refletem o modelo social em que vivemos. Seria necessário lê-las com veemência, como se fossem verdades peremptórias, indiscutíveis, evidentes e básicas , pela forma e tom assertivos que estas afirmações são expressadas, sobre o que pensamos quando falamos de bebês.
Assim nós as escutamos:
– “Mas o que se pode fazer com um bebê, se os nenens não entendem nada ?”,
– “Bom, na verdade, o que eles têm é apenas uma percepção sensorial do mundo que os rodeia.”,
– “O que vocês fazem? Ruidinhos e luzes coloridas ou coisas assim?”
– “Está claro que os bebês não podem entender nada como um adulto sim entende! ”,
– “ Bom, a nível sensorial tudo bem, mas o resto…”
– “Nascem como uma página em branco, e logo vão aprendendo a falar, a caminhar, a pensar, etc; depois vão aprendendo tudo, mas quando nascem não sabem nada. Não vejo o que se pode fazer com eles. Não consigo imaginar nada mais além do gugu dadá…”;
– “Um bebê não sabe falar, então o que ele vai entender? Não pode entender o que entende um adulto.
– “…a um bebê não se pode mostrar nada dramático porque poderiam se traumatizar”,
– “… são pedaços de carne com olhos, uns animaizinhos. Até que começam a falar e são capazes de raciocinar, de argumentar, claro.”;
– “Bom, os outros, eu não sei. O meu, o único que faz é chorar, comer, fazer cocô e dormir.”
– “Gente, um bebê não é capaz de pensar por si mesmo”;
– “ Está claro que os bebês aprendem por imitação dos adultos, porque não sabem nada, aprendem a falar imitando seus pais, seus avôs, ou o que escutam na rua…”.
Ou frases que pelo contrário definem o modo de ser, caráter e a conduta das crianças de menos de 3 anos de forma indiscutível (ditas muitas vezes e sem limite pelas mesmas pessoas que negam qualquer capacidade do ser humano quando nasce):
– “É que meu filho (de 9 meses) é impossível”,
– “Não é capaz de estar quieto”,
– “Não é capaz de se concentrar em nada”,
– “É muito bobinho”,
– “Atento? Sem fazer nada por 30 minutos? Eu o conheço e te digo que é impossível!”,
– “Não acredito que se comporte bem!
Muitas pessoas afirmam sem parar para pensar no que significam realmente estas frases, no que transcendem e em que medida bloqueiam o potencial de desenvolvimento da sociedade. Outras, simplesmente não concordam em absoluto com elas. Mas o debate não se abre no seio da sociedade a nenhum nível, porque talvez se o fizéssemos seriamente, com o conhecimento científico que temos hoje à mão, poderíamos colocar em perigo todo o modelo econômico, educativo, social e cultural que construímos. Seria necessário revisá-lo todo. Essa desconfiança que se semeia na primeira infância recolhe seus frutos na adolescência, e perpetua muitas âncoras sociais pesadas, difíceis de se desvencilhar.
Assim, aparece também a definição no dicionário da Real Academia Espanhola (RAE), quando propõe que o uso da razão é a “Posse natural do discernimento, que se adquire passada a primeira infância”.Contraditoriamente, o mesmo grupo social que afirma, legisla e projeta nesta direção marcada pela desconfiança das futuras gerações, se ufana de ser a sociedade mais avançada e evoluída da Historia da Humanidade.
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Mas, voltemos ao pequeno espelho retrovisor. Antes de fazer, tive a oportunidade de programar e antes de programar, tive a oportunidade de ver, e pouco antes tive a oportunidade de descobrir. Neste instante inicial, neste instante zero, houve um momento de amor indescritível, de ruptura com os moldes e as certezas. Foi um momento de visão lúcida das infinitas possibilidades que se ofereciam em uma só. Eu estava sentado, vendo um espetáculo na França para crianças menores de 3 anos. Era L´air de l´eauda companhia Théâtre Athénor com Brigitte Lallier e Laurent Dupont em cena: um dos espetáculos pioneiros deste gênero no mundo. Naquele momento, senti que vários pilares inalcançáveis da poética teatral podiam se encontrar por causa dos espectadores. Me arrepiei e três lágrimas caíram sobre o papel que tinha na mão. Fiquei sem palavras! A arte era possível porque os recém-nascidos a faziam possível!
Se o zero foi este momento de descobrimento de algo latente, para ver que era possível abrir um novo território de exploração, o Um poderíamos dizer que foi Pupila d´água, e depois A Geometria dos SonhosO Circo Incierto, Desenhando LabirintosAndaNa ponta de língua, Si tú no hubieras nascido, Quien era yo antes de ser yo, Café Frágil e todos os espetáculos que ainda esperam para ser colocados em pé…
Pois bem, justo depois de descobrir o Teatro para bebês, eu me empenhei em compartilhar minha fascinação com os que faziam Teatro para Crianças. Pensei que se estavam próximos à infância, poderiam entendê-lo melhor. Não percebia o grande erro que estava cometendo. Contava a companhias, empresários, distribuidores, produtores, programadores e outros “ores” de todos os lados deste país. E aos poucos artistas que fui conhecendo. Meu entusiasmo era proporcional à indiferença que gerava meu discurso: quanto mais entusiasmo, mais indiferença. Contava a amigos e pessoas próximas como um apaixonado que crê que todos estão como ele. Pus a disposição os meios, propondo colaborações ou co- produções a todos aqueles que me pareciam poder criar para bebês, com toda a infra-estrutura do poderoso festival que dirigia então: Teatralia. E nada! Fracassei fragorosamente. Zero. Talvez não tenha sabido explicar- lhes, talvez não tenha podido transmitir… Era tão evidente! E não consegui tocar a ninguém. Em três anos, não consegui que nenhuma só companhia espanhola de Artes cênicas, plásticas ou musicais quisesse se aventurar a criar para bebês.
Entretanto, eu seguia cada vez mais apaixonado que nunca por aquela impossibilidade. Por muita terra e água que pusesse à disposição, ninguém tinha as sementes, e o que é pior, ninguém parecia querer tê-las. Os argumentos que meus colegas me davam para dizer que não, mostrando resistências e medos, eram tão educados como reiterativos. Todos nadavam nas águas básicas da sobrevivência. Não era tentador nem como disparate artístico. Me diziam que com uma lotação tão limitada não se podia trabalhar, que nunca se chegaria nunca a cobrir os gastos, que não havia circuito para difundir o trabalho, que os programadores não o entenderiam ou que nunca sobreviveria… Que se faria em Teatralia e ponto. Atrás destas justificativas, respirávamos o mesmo ar de incredulidade com o que costumam chegar os adultos a ver os espetáculos para bebês. Pensavam de uma maneira mais ou menos acentuada o mesmo que os espectadores, que antes descrevia com suas frases, perguntas capciosas ou sentencias difamatórias.
Assim, conformei- me durante um tempo em fazer experimentos com artistas que não tinham feito nada para bebês, e que não o tinham concebido como tal para a primeira infância. Aceitaram o desafio e me agarrei às intuições. Vi que funcionavam, que poderia apresentar o trabalho de diferentes artistas a bebês e serem eles que ficasse arrepiados e com a alma tocada. Foi o caso do músico Pedro Esteban ou dos músicos de Jazz que fui buscando por Madri, para citar alguns exemplos iniciais. Recuperaram o gosto por interpretar porque seu auditório do café de jazz para crianças ou os de Pedro Estevan, estavam compostos por um especial viveiro de ouvintes: os bebês (recomendo a leitura dos textos da neurólogaSandra Trehub no estudo da incidência da música nos bebês para entender de que falo). O público os escutava! Assim, segui programando espetáculos que vinham principalmente da França e de outros países com menos medo de provar algo novo.
E chegou o ano 2001, com a criação da companhia La Casa Incierta, com o trabalho com os artistas Azufre e Cristo, e logo com a incorporação da atriz que encarnou o espírito de todos os trabalhos para a primeira infância que realizamos até agora, a que me levou a ser menos gestor e mais “gestador”, a que descobriu que a linguagem da comunicação com os bebês está feita de muitas mais coisas que de códigos binários compostos de zeros e uns, a que se deixou atravessar pela maternidade e com o fio que descobre as capas infinitas da primeira infância, a que soube definitivamente traduzir a experiência diária em cima do palco e transformá-la em desafios permanentes, que nos levaram cada vez mais longe para estar cada vez mais perto dos recém-nascidos. Falo de Clarice, de Clarice Cardell.
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Logo, nasceu nossa filha Gabriela. Gabriela foi, com seu nascimento, a que nos empurrou a criar Pupila d´água. E é que a Humanidade não criou nada tão impressionante como a gestação e o nascimento de um ser humano. Nunca! É um mistério que funda mitologias, religiões (seja de teosofias matriarcais ou patriarcais), grande parte do estudo da Ciência ou da Filosofia, e dos cultos pagãos que fundam a Arte. O culto do mistério do nascimento do ser humano é o epicentro de qualquer Cultura e marca, como uma cara da mesma moeda, o culto da morte.
Em Pupila d´água se sintetiza de maneira sutil o que Irina Kouberskaya nos ajudou a potencializar e desenvolver desde o primeiro momento, junto à atriz e cantora Fernanda Cabral. Fernanda soube criar, aninhar e acompanhar todos os elementos essenciais da obra. E principalmente, graças à sua experiência em várias disciplinas da arte, soube “traduzir” a expressividade dramática na passagem de uma linguagem a outra. Constatamos que nesta obra estão as sementes de todas as que fizemos depois. Antes de começar a ensaiar, partimos sempre da premissa de não saber o que é um tenro infante, e é por esse motivo que durante 10 anos, sempre estivemos visitando de forma permanente crianças de 0 a 3 anos em creches.
As “verdades”, que havíamos escutado (inclusive no seio das próprias creches) ou lido em livros de psicologia ou de psicoanálise em relação à infância, foram sendo derrubadas como castelos de areia quando sobe a maré. Pupila d´água bebia das linguagem transfiguradas, onde dizíamos o mesmo, mas de modo diferente, seja com palavras, com língua de signos, com dança ou com linguagem de objetos. Com Pupila, descobrimos que o espaço de comunicação tem um elemento essencial que é a água. A água que portamos nos corpos e a água que em forma de vapor umedece todo o ar, por mais seco que esteja.
Poderíamos dizer muitas coisas sobre a água, porque tem uma importância essencial, se queremos levar um pouco mais além as fronteiras do nosso entendimento. Água, porque somos um percentual muito alto de água, e não importa se falo do bebê ou do adulto. Não em vão, o ser humano se gesta no líquido amniótico que não é outra coisa que água, urina e algumas proteínas. Água com uma alta concentração salina, como o mar. Se ao lançar uma pedra na água, podemos ver as ondas que se transmitem concentricamente, e ou que se deslocam como uma espiral helicoidal ( como os tubos dos surfistas), nos parecerá fácil entender que a vibração de um violoncelo ou de uma percussão possam fazer vibrar a água que porta um bebê por todo o corpo, com formas geométricas, tão harmônicas ou melódicas como a vibração da água ou como a da música.
Concedemos à musica muitas vezes a qualidade de não ter que passar necessariamente pelo crivo do entendimento. Como se as palavras não fizessem vibrar o ar e a água em virtude de sua intensidade, volume e intenção. Como se além do entendimento não fosse a exaltação da água do corpo, a que nos permite expressar as emoções através das lágrimas que produz o pranto ou do ar prenhado de água que porta o riso. Como se a estrutura molecular da água não variasse em função da energia que recebe. Como se não variasse em virtude dos fótons que vêm que sol.
E é que o diálogo secreto entre as atrizes e o bebês em Pupila d´água é tão ritual como a hora do banho diário, onde a felicidade extrema e o amor multiplicado se encontram. A hora mítica ou mitológica, como a estrutura arquetípica que os bebês portam em sua memória genética e na arquitetura de seu funcionamento evolutivo. Não paramos para nos questionar o que o bebê no momento do banho entende para ser feliz…
O que necessitamos entender da água, das pedras, do fogo ou da luz e do ar, se nos reconhecemos feitos desta mesma matéria? Poderia me estender longamente para tratar de expor a profundidade, complexidade e potencial que o ser humano tem ao nascer, mas não seria mais interessante saber o que acontece no mundo vasto e infinito que desconhecemos? Não é a aventura ao desconhecido que garante que o artista não está se copiando a si mesmo ou a outros? Se o que acontece não o desconhecemos, então que interesse poderá haver em descobrir algo novo, algo que inclusive não poderíamos chegar a entender?
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Hoje, quando olho no retrovisor destorcido pela equação do espaço e tempo, fizemos como companhia mais de 1500 apresentações nos últimos 10 anos, e o Teatro para Bebês nos deu para viver e para pagar todas as contas. Todos os vaticínios de nossos colegas não só não se cumpriram, como se baseavam em suposições e cálculos equivocados. Igual que erradas são ao frases dos indivíduos que colocamos ao princípio, e que escutávamos antes das apresentações. Ao acabar as apresentações, os mesmos adultos que diziam estas coisas, ficam sem palavras, perplexos como seus bebês estavam absortos ou entregues. E os filhos desmontam em menos de 40 minutos, toda a bateria de preconceitos com que eram julgados previamente por seus pais ou por seus educadores.
Amanhã de tarde, o espetáculo, que segue mais vivo que nunca, será montado e apresentado duas vezes mais. E já são 563 vezes que o fazemos, e voltamos a fazê- lo como se fosse a primeira vez. A peça se difundiu em países como Espanha, França, Martinica, Holanda, Alemanha, Itália, Portugal, Bélgica, Russia e Brasil. O poema de Pupila não ocupa mais que uma folha. Mas hoje como ontem, seguimos descobrindo novos matizes e formas de vê-lo e interpretá-lo. Os bebês nos ajudam a ver que cada instante é infinito, tal e como o demonstram os físicos quando nos comprovaram matematicamente que o infinitamente macroscópico está contido pelo infinitamente microscópico. Talvez porque, da mesma forma que os bebês, o poema de Pupila d´água está pensado com números irracionais, números com infinitos decimais, entrelaçados de geometrias que vão de um lado ao outro em dois hemisférios do cérebro. O bebê utiliza todo seu cérebro com mais velocidade e criando muito mais sinapses novas que o adulto que o acompanha. Trançará e tensará os dois hemisférios do cérebro para viajar até o que desconhece, até os limites de todas suas fronteiras, que são todas de seus antepassados, e irá além de sua evolução, para se aproximar do entendimento profundo da matéria e viajar, inexoravelmente até a casa incerta que surge no horizonte e que nunca chegará a ser alcançada totalmente… por muito que nos aproximemos.
Carlos Laredo. Valdemorillo 25 de fevereiro de 2011.

INFÂNCIA, TEATRO, SOCIEDADE

INFÂNCIA, TEATRO, SOCIEDADE- REVISTA ESPANHOLA PRIMERO ACTO

Sinopse do Texto-
Artigo de Carlos Laredo para a revista espanhola “Primeiro Ato”. O artigo fala de temas como a arte, a primeira infância, o teatro e nossa sociedade atual.
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 INFÂNCIA, TEATRO, SOCIEDADE
Conheci a um menino que queria ver o mundo do alto, para saber se quando crescesse sentiria vertigem. O menino subia nas cadeiras, nas escadas, nos ramos mais altos, nas montanhas… E cada vez subia mais alto, queria se sentir maior e grande. Mas quando subia, tudo a sua volta se fazia paulatinamente menor. Acabava de alcançar o cume, e o mundo se transformava em uma escala cada vez mais ínfima, até desaparecer de sua vista. Só lhe interessavam os cumes mais altos. Até que um dia, tendo saciado sua sede de grandeza, voltava apressado para casa. A arrogância e o sentimento de superioridade cegaram sua percepção do perigo, e na descida da montanha, um acidente quase acaba com sua vida. As operações cirúrgicas para salvá-lo deram lugar a muitos anos de convalescênça e reflexão. Hoje seus cumes estão no infinitamente pequeno.
Há na nossa forma de olhar o pequeno, de olhar os pequenos, uma associação quase automática, que só se explica se consideramos que os que têm um tamanho inferior são hierárquica e globalmente inferiores em relação aos que alcançaram seu pleno desenvolvimento físico e intelectual. Grande parte da análise do desenvolvimento psicológico evolutivo da criança, que se fez ao longo do século XX, estava sustentado num modelo comparativo, que media a criança por suas carências, em relação a um modelo baseado no adulto médio. Como se o adulto não tivesse acumulado travas ao longo de sua vida. Entretanto, as investigações científicas, levadas a cabo ao longo dos últimos dez anos, lançaram uma nova luz e uma perspectiva completamente diferente sobre as capacidades reais com que nascemos. Estas mudanças nos estão levando a corrigir erros científicos, ainda que não tenham se refletido em uma mudança real do modelo social, cultural e educativo vigentes. As novas fronteiras do conhecimento nos ajudam a entender melhor uma parte essencial da gênesis da humanidade e a pensar melhor o potencial evolutivo, que temos pela frente como espécie. A memória acumulada ao longo de milhões de anos converge na genética, e em outros elementos e aspectos que formam a matéria fenomenológica da que estamos feitos. Ao colocar em primeiro plano a perspectiva global evolutiva, talvez possamos modificar com grande velocidade os pontos de vista que, das alturas, temos fixados sobre a infância.
Desde que nasce o ser humano, se potencializa a indústria química com o medo. Em muitos partos, vemos como se neutraliza e se substitui a capacidade, a sabedoria milenar e a responsabilidade do binômio mãe-bebê, por uma assistência mais cômoda e previsível, mais segura e principalmente mais rentável para a equipe médica. Apesar dos tímidos movimentos que tentam sensibilizar a população neste aspecto, vemos como aumentam o partos programados, nos que se anestesia a relação da mãe com o bebê, sem que se tenho feito um estudo ou um cálculo das graves consequências que produzem tais medidas na sociedade. Nas creches, os educadores percebem como aumentam ano a ano o número de crianças, frutos de partos programados, e notam suas consequências no atraso do desenvolvimento, nas condutas apreensivas e desconfiadas das crianças.
Ao longo dos últimos dez anos, com a criação e programação de obras cênicas dirigidas à primeira infância, pudemos observar uma e outra vez que o modo como nascem as crianças influi no seu comportamento em um lugar público como é o Teatro. Para nós, é habitual ver como os bebês nascidos de cesáreas desnecessárias ( programadas, por interesse ou excesso de prevenção) se remexem nos braços e saem engatinhando ou correndo do colo de seus pais. Como se suas reações bioquímicas tivessem ficado ancoradas pelos impulsos das contrações do momento da expulsão, e a cada “contração” a criança saísse correndo para a luz, para a saída. Bebês expulsados de seu próprio nascimento, do caminho de sua própria espiral e, frequentemente, diagnosticados e medicados como “hiperativos”. Neste espaço escuro e lumínico do cenário, tudo isto se acentua de forma dramática, porque além do mais, a criança não pode entrar no espaço cênico por onde estaria sua saída.
Em nosso afã por ensinar, os adultos mostramos com o dedo indicador a nossos filhos os cumes, que devem alcançar indiscutivelmente. Das altas Cátedras, se olha com indiferença as ínfimas e pequenas creches. Da Educação Superior se vê pequena e irrelevante a Educação Inferior. O pequeno parece limitado, inerme e vazio. Como se a educação fosse uma escada unidirecional até o mais alto, sem ter como meta a origem da Humanidade: sua infância.
Das alturas dos organismos oficiais do pensamento, como a R.A.E da língua espanhola, são definidos os conceitos essenciais como: o entendimento, o uso da razão, o infante, a compreensão, a consideração, a alma, etc… a partir de um jogo de espelhos que afastam frequentemente as palavras de seu significado original e cujas definições excluem as capacidades das crianças. Vejam, por exemplo, a definição de “uso da razão” como “ posse do natural discernimento, que se adquire passada a primeira infância…
É habitual ouvir dos adultos, quando duvidam das capacidades das crianças por “entender” algo. Não obstante, como diz o próprio dicionário RAE, “entender” é uma tarefa impossível para qualquer ser humano, porque se realmente se trata de “Ter uma ideia clara sobre as coisas” ou “Saber algo com perfeição” e define “algo” como “tudo o que tem entidade, seja corporal ou espiritual, natural ou artificial, real ou abstrata”, e sabendo que nossa percepção é limitada com respeito à matéria que se pode dividir de forma ilimitada (até o infinitamente pequeno), é provável que não entendamos nada com perfeição. Principalmente porque há muita informação que nos escapa, por mais desenvolvida que esteja nossa sensibilidade.
Essa definição contrasta com o significado original, em que entender queria dizer “tender e trançar as cordas de dentro”, como se “pensar” ( sua raiz tem o mesmo significado que entender) fosse trançar fazendo sinapses entre os dois hemisférios do cérebro, mas com três cordas. A trança não serve para tratar de alcançar o inalcançável, porque é infinita para os dois lados.
A própria etimologia da palavra “infans” guarda esse desprezo injusto “aos que não tem uso da palavra”, mesmo que não tenhamos conhecido ainda nenhum adulto capaz de falar um língua materna, depois de chegada a idade adulta.
Para a Justiça, as crianças só tem voz, ou se lhes pede testemunho ou opinião, quando já tenham cumprido os 12 anos. Antes, são apenas um objeto passivo que devem ser protegidos com direitos, mas sem dar responsabilidade e obrigações diretas à sociedade respeito a estes direitos.
Apesar de que o direito à Cultura esteja reconhecido pela Constituição, sem discriminação justificável por razão de idade, desde os Museus, Teatros, e Auditórios Oficiais e de Cultura Pública, os menores de 4 anos são uma parte marginal do público. Quando não se programa nada para eles (que é o habitual), são proibidos explicitamente da entrada, ou são desprezados com uma entrada sem preço, ou seus horários são incompatíveis com a vida das crianças. Os investimentos públicos em matéria de cultura são desproporcionais por pequenos em relação à quantidade de crianças e jovens que há na população. E muitos artistas que marcam a pauta da Cultura Oficial vêm às crianças como fonte primitiva do ruído, da sujeira, da irracionalidade, da incapacidade intelectual ou da barbárie selvagem. Falla, H. Lanz e Lorca preparavam juntos obras para crianças a princípios do século XX. Seu exemplo não rendeu frutos nos Centros Dramáticos Espanhóis ou nos Teatros e Auditórios que levam seu nome e de suas obras. Sua gestão pública exclui uma parte do público. Ninguém grita ante o descumprimento flagrante das leis vigentes. Os funcionários da Cultura vêm abrindo há anos pequenos gabinetes pedagógicos ou didáticos para suas atividades destinadas às crianças, com poucos recursos, onde convive uma inexistente ambição artística com a necessidade de cobrir o expediente escolar. E se classifica como Arte um pequeno curral didático de datas, dados, categorias e definições tanatográficas (biografias de mortos), que o afastam de sua origem e de seu processo, que os afastam de sua própria infância. Em muitos destes espaços públicos se utiliza o público cativo escolar ou o público familiar para maquiar os nefastos resultados de assistência real do público adulto. Instrumentalizam a programação infantil como programação de recheio, a serviço de um catálogo que vale mais por seu peso quantitativo que pelo desenvolvimento responsável do cultivo de seu conteúdo. Sirvam como contraste todas as honrosas exceções.
Podemos servir às crianças pratos cheios de entretenimento para que aprendam a consumir, a matar o tempo. Em nome da Cultura lhes servimos pratos toscos de ócio onde as estéticas estejam bem ancoradas (e se possível de forma estridente) exageradamente nas cores básicas, nas notas musicais básicas, nas repetições básicas, nas palavras reduzidas de significado único e básico, nas didáticas básicas, nos conteúdos básicos, nas lições de moral básicas… E o básico entendido como sinônimo de reduzido, negativamente pequeno. Para que a criança tenha a ilusão de dominar esse espaço reduzido, sem que importe muito quanto podemos ofender sua curiosidade.
Os artistas que mancham suas mãos com tais espectadores formam parte da terceira divisão da Cultura, e sua ressonância não transcende ao âmbito local ou regional. De feira em feira, buscam a sobrevivência, trabalhando grátis em troca da promessa de trabalhar, ou quando trabalham, financiando os créditos das prefeituras, que especulam durante meses ou anos com suas dívidas de modo delitivo, nos fazendo cúmplices de uma situação injusta (por enganosa), pobre, ignorante e cega chamada “mercado”.
Todo artista que se considere Artista sabe que para abordar qualquer nova obra deve voltar à infância de sua própria linguagem. Entende-se que o Teatro para Crianças é como um gênero em si mesmo, como uma categoria que o separa do Teatro em geral. Como se o fato de estar dirigido a um público de uma determinada idade determinasse indubitavelmente o limite de seu potencial artístico e como se as fronteiras de seu âmbito estético estivessem fechadas peremptoriamente. Assim, muitas criações de artistas que trabalham para o público adulto não são cogitadas em ser apresentadas para crianças, porque lhes supõe uma degradação, uma descida ao níveis mais baixos, uma descida aos níveis menores e insignificantes. Que as excepções nos sirvam para pensar que talvez nos equivoquemos.
Um ator que tinha trabalhado muitos anos na Comédie Française e que atuava em um espetáculo para bebês dizia recentemente que trabalhar em espaços reduzidos o fez voltar a pensar toda sua forma de fazer Teatro, e que já não poderia voltar a subir no palco, cheio de máscaras, truques e enganos que o ajudavam a se afastar de si mesmo. Reconhecia que o cume mais alto pode ser o menor. Toda sociedade se renova através das gerações recém-nascidas, através do culto ao latente, como toda Cultura deveria se renovar através de sua infância.
Aceitemos, mesmo que seja só por um instante, o valor de uma pequena semente que cai da árvore centenária, porque além de portar toda a memória da vida da árvore e de seus antepassados, carregará uma singularidade a respeito de seu progenitor: o último salto ao vazio, o último fracasso ou ruptura, a ponta de lança que abre esse parêntesis de espaço e tempo que chamamos vida. Talvez na arca de Noé não coubessem todos os animais e plantas da fauna e flora, mas sim as sementes e a informação genética que deveriam salvar as distintas espécies do dilúvio.
Talvez o pequeno não seja tão insignificante… 
Fonte: https://culturaparabebes.wordpress.com/

Babies documentário e livros!

Só para confirmar que a M todas as noites (e tardes e manhãs) diz, qué bere bebés, põe mãe põe!

E já vimos o documentário mais 2 vezes...
O bebé tá a chorar!diz repetidas vezes!

Há dias começamos a ler (bom não consigo ler porque ela quer que eu vire as pagina, assim invento histórias para as imagens) e todas as noites ela quer ler livros. Qué lere mamã! diz convicta!
Fomos ontem ao médico e ao entrar no centro de saúde ela disse, "blioteca" (onde tínhamos ido apenas 1 vez), os edifícios têm de facto semelhanças, no final disse-lhe:
Queres ir à biblioteca?..."sim sim sim"!, e passamos lá uma boa hora, ela à descoberta dos livros, das paginas que tocam, que têm buracos,dos meninos e dos animais, das cores e formas, sozinhas a partilhar. Na sala ao lado têm um teatrinho de fantoches, que se vê através de um vidro, ela passou um tempo a olhar para ele e disse-me... "qué bere mamã"!
Mas não era hora do conto...deitada na carpete ou sentada na cadeira, que lindo deslumbramento!



Teatro para bebés, entrevista

TEATRO PARA BEBÊS- ENTREVISTA PARA A REVISTA WWW.TODOPAPAS.COM

Entrevista de Carlos Laredo, para a revista www.todopapas.com. Fala do teatro para bebês e do trabalho de La Casa Incierta.
 Entrevista de Carlos Laredo para a revista www.todopapas.com
Perguntas sobre o “Teatro para bebês”.
 A partir de que idade um bebê pode ir ver uma peça de teatro?
Se na vida quotidiana ou na educação a idade pode significar um grau de aptidão ou de inaptidão de uma pessoa, em virtude de seu grau de maturidade, de crescimento ou de desenvolvimento; no teatro, estes parâmetros não têm por que ter o mesmo grau de validez. Se víssemos o crescimento do ser humano desde a acumulação de bloqueios ao longo do tempo, da perda de flexibilidade tanto física como mental, veríamos que os adultos que mais travas acumularam são os que têm mais dificuldades para expressar suas emoções, para se comunicar ou se maravilhar com o que acontece, para despertar sua curiosidade, ou simplesmente para poder estar concentrados e relaxados. Os espectadores adultos podem chegar a ter verdadeiros problemas de inibição sensitiva ou intelectual que a vida profissional e familiar acarretam. Entretanto não pomos em dúvida suas aptidões como espectadores potenciais, porque nos consideramos capazes de pôr uma etiqueta ou uma pequena historia explicativa a esta obra ou a outra.
Para ser espectador de teatro, a idade não é sinônimo de sensibilidade, nem de capacidade para a maravilha, nem de capacidade estética, nem de aptidão sensorial ou emocional. Em todos estes aspectos, os bebês são muito mais aptos para a aventura artística do que os adultos que lhes acompanham, muito mais aptos para ver o que os adultos deixam de ver ou perceber. Para sentir e vibrar com a energia do que lhe rodeia, um bebê está plenamente capacitado tanto por suas faculdades sensoriais como por sua qualidade de viver todo tempo no “aqui e agora”. Como espectadores potenciais os bebês também não estão limitados por sua capacidade genética, pois detêm o tesouro de um cruzamento a mais que de seus pais. Também não se limitam por sua capacidade neurológica, já que seu cérebro produz muitas mais conexões neuronais que o cérebro de um adulto. E do ponto de vista da linguagem? Se na origem do significado da palavra, ”infantes” eram aqueles que não tinham o uso da palavra, por que os bebês revelam todo o percurso da linguagem de tal forma que são capazes de falar um ou vários idiomas num tempo muito menor que o do adulto e de maneira muito mais perfeita? O que chamamos de língua materna?
Uma vez dito isto, seria necessário falar de qual obra de teatro e de qual bebê teríamos em mente, para saber qual tipo de encontro ou desencontro estamos falando, tanto do ponto de vista de ambas naturezas como dos estados em que se encontram.
 Que características especiais devem ter estas peças para atrair os bebês?
Catársis, mimésis, evocação, poética e lírica, expressão dramática (tanto trágica como cômica), estética e memória; e tudo isso em forma de rito teatral ou cênico. Ou seja, tudo o que atraía aos espectadores do coro grego quando assistiam ao rito do teatro ou do ditirambo há mais de 2000- 2500 anos. O estudo e a convivência com a primeira infância contribuem de forma eficaz para o encontro do espectador bebê com o intérprete, com a estética e com a dramaturgia de uma obra. É mais importante que a obra emane dos bebês e de seu olhar originário que se destine aos próprios bebês. É uma forma de falar de algo que lhes concerne porque entra no contexto de sua comunicação quotidiana com o mundo adulto e de sua condição arquetípica e mitológica.
Os bebês gostam de que tipo de peças?
Não há dois bebês com personalidades iguais como não há dois adultos com gostos iguais. O fato de que os adultos tenham adestrado seus gostos por tal e tal gênero ou por tal ou tal peça não quer dizer que estes adultos não tenham nascido com uma curiosidade infinita e com interesse por experimentar tudo, incluindo aquilo que lhes desgostara a priori.
 São muito diferentes das peças de teatro para crianças um pouco mais velhas?
 As crianças a partir de 4 ou 5 anos de idade, as crianças vão desenvolvendo uma maior necessidade de repetir os caminhos conhecidos, os labirintos superados e as narrativas com principio, meio e fim, ou apresentação/conflito/desenlace. Demandam ou esperam a estoria como estrutura que lhes ajuda a consolidar sua personalidade ou a vencer seus medos.
Podem chegar a acreditar que seus gostos já se formaram e podem ser muito conservadores em quanto a querer ver a peça que já viram, o estória ou o filme que já conhecem. É muito comum que o entorno familiar ou escolar reforce estes aspectos em detrimento da capacidade poética com que nasce o ser humano.
As salas de teatro devem ter acondicionamentos especiais?
Por agora sim, em relação à necessidade de lotação reduzida, e de fomentar a proximidade do público com a peça cênica. Talvez, em poucos anos, vejamos espetáculos que rompam com as características que se demandam hoje.
Supomos que as peças serão relativamente curtas…
Sim, porque por agora os intérpretes e os criadores somos incapazes de criar obras que tenham uma intensidade suficiente para fazer peças de mais de 40 minutos. Do ponto de vista prático, muitas dessas peças se fazem para públicos reduzidos de não mais de 40 ou 50 bebês, e se é necessário realizar 2 ou 3 apresentações numa mesma manhã, não seria possível com uma duração superior a 40 minutos. Não acredito que a capacidade de concentração de um bebê seja limitada pela duração e sim que está limitada pelo valor do acontecimento. Já vi peças de oito horas que me pareceram curtas e peças de 1 hora que foram intermináveis. Uma vez dito isto, um bebê de 3 meses não tem a mesma dependência de seu entorno maternal e afetivo que uma criança de 2 ou 3 anos, e seus ritos cotidianos, seu hábitos de sono, comidas, etc… devem ser respeitados para que o teatro não seja uma fonte de dispersão de seu biorritmo. Portanto, não imagino peças de 8 horas para bebês, mas acredito que no futuro veremos peças de maior duração que na atualidade.
É diferente atuar para um bebê que para um adolescente ou um adulto?
Sim, porque seu olhar está isento de preconceitos ou de ruido mental.
 O que se sente quando o seu público objetivo não sabe ainda falar?
-Não saber falar não te condiciona como espectador que deve guardar silêncio. Não dominar um idioma ou língua não significa que não se comuniquem. O bebê é um ser comunicativo desde que nasce e as mães sabem perfeitamente disso.
 Como saber se a um bebê gostou da obra e da experiência?
Porque te olha, te escuta, vibra, se emociona e quando acaba a obra vem te abraçar. E se não gosta, grita, chora ou aponta para a porta de saída indicando que quer ir embora. As crianças sabem expressar com força suas preferencias, desde que estão na barriga de sua mãe, dando chutes se há ruídos que lhe parecem estridentes ou situações que lhe parecem violentas. Também na barriga são capazes de modificar o paladar, as necessidades (os chamados desejos de grávida), a sensibilidade e a criatividade de suas mães.
Como surgiu “La casa incierta” Quanto tempo a companhia vem fazendo teatro para bebês?
La Casa Incierta foi fundada em 2001 por Carlos Laredo e Clarice Cardell. Os nascimentos de seus filhos impulsaram desde então o trabalho da companhia até agora. Acompanhar esta viagem da primeira infância desde a gestação é uma experiência única que se imprime em nosso trabalho poético em “Pupila d´água”, “A geometria dos sonhos”, “Anda”, “O Circo Incerto”, “Desenhando Labirintos”, “Si tu não tivesses nascido”, “ Na ponta de língua”, “Café Frágil” , “Quem era eu, antes de ser eu” e “ A Caverna Sonora”… Viajamos com nossos bebês e com outros por escolas infantis de diferentes países. Desenvolvemos de uma forma muito particular com o trabalho de formação de educadores em matéria de artes cênicas, plásticas e musicais. Também criamos para o público adulto “Ser Sin Nombre” , “Tú sólo sabes llover”, e “ Terra Vermelha”.
Há 5 anos, a companhia é residente no Teatro Fernán Gómez, onde realiza oficinas e conferências e a direção artística do Ciclo de Teatro para bebês “Rompiendo el Cascarón”, com diversas companhias nacionais e internacionais, que se dedicam às artes cênicas para a primeira infância.
Como é escolhido o seu repertório de obras para bebês?
Não o escolhemos. Criamos a partir de pesquisas em creches. O teatro para bebês foi se articulando na França no final dos anos 90, a partir de algumas experiências isoladas nos anos 80. Na Espanha, as primeiras obras foram programadas no Festival Teatralia há 15 anos. Não existem muitas companhias de repertório para bebês no mundo e isso faz com que os caminhos de criação sejam diferentes do Teatro de repertório para adultos, com obras já escritas por outros autores. La casa incierta escreve e dirige suas próprias obras.
O que se tenta transmitir através destas obras e do teatro aos bebês: valores, ensinamentos…?
Não tentamos ensinar nada no sentido didático de dar conhecimentos. Toda experiência estética é em si mesmo uma viajem pedagógica, mas do ponto de partida da pedagogia do desconhecido. A arte é o disparate que nos impulsiona na aventura pelo desconhecido, é o diálogo com o oculto, com o mistério. Revelar, explicar ou transmitir de forma didática é uma forma um pouco sutil de profanar. Da mesma forma que se profana uma piada se tentamos explicá-la antes que o disparate nos faça rir. Talvez, todo ato de Arte para bebês seja um ato de amor e de respeito àquele que se atreveu nascer num mundo desconhecido. Nascer hoje em dia é por si só um ato heróico.
Como vocês vêm o mundo do teatro infantil atualmente? Parece que há cada vez mais interesse dos pais em levar seus filhos ao teatro…
Só esta pergunta daria para muitas páginas, porque levamos muitos anos vinculados ao teatro para crianças dentro e fora da Espanha e do Brasil… Em linhas gerais, parece que conseguimos cultivar algo nos últimos anos, melhorando as infraestruturas, os eventos, as programações, a qualidade cênica, os patrocínios, etc e se puderam ver alguns frutos, e avanços como organizar e desenvolver um verdadeiro projeto cultural para a infância. Mas com a desculpa da crise e no ritmo de declive nos últimos anos, parece que tudo que foi avançado nos últimos 30 anos pode se retroceder em 10… Enquanto aos orçamentos do Estado, das Comunidades e das Prefeituras cresciam 3 ou 4 % ao ano, o Teatro para Crianças crescia em um ritmo similar. Agora que decrescem a um 3 ou 4 %, o dinheiro se reduz entre um 50 a 70 %.
Cultivar a alma de um ser humano é tão vital como alimentar seu corpo, e se não, já veremos o tipo de mundo que conseguiremos criar para os próximos 100 anos. Quanto mais atividades para crianças foram realizadas, mais famílias participaram. Isso demonstra que a arte para a infância é uma necessidade latente de nossa sociedade.
Qualquer outro comentário, declaração ou tema será bem-vindo…
Só agradecer ao leitores de http://www.todopapas.com/ sua atenção e incentivá-los a levar seus bebês a experimentar com as artes.

A partir do site: https://culturaparabebes.wordpress.com/