A questão da versatilidade de um actor em cena, é mais ou menos consensual, no sentido em que a formação nos impulsiona a uma percepção da verdadeira necessidade em que um actor deverá também bailarino, ou pelo menos ter o seu corpo disponível, saber usar a voz não só para a palavra mas também para o canto assim como rodear-se de mecanismos que o apoiem para uma mais controlada interpretação.
Ora e o actor manipulador? E quando à cena se alia a marioneta.
Assim como a dança, o treino físico e a preparação vocal exigem tempo de preparação, como podemos acreditar no controle sobre a marioneta se não for exigido a mesma preparação.
Se não há informação tenderá a imperar o senso comum e mesmo dita-nos um conjunto de clichés básicos e primitivos que em relação à interpretação e ao movimento em cena não são levados de forma tão leviana.
Esta é uma chamada de atenção, a marioneta é um meio de comunicação que temos de aprender a usar para que esta transmita o que se pretende.
Neste jogo teatral onde o público que assiste a um espectáculo recebe um conjunto de regras às quais tem de obedecer o manipulador. Se vestido de negro tentando não ser nada, anular-se perante o objecto que manipula pode ser um risco muito forte, pois a sua presença física é forte e constantemente o espectador tentará anula-lo, talvez sem nunca o conseguir a verdade é que se não se pretende anular a sua presença tem de ter significado, para si para a sua relação com a marioneta e para a sua relação com o espectador.
A minha discussão centra-se, prende-se com esta conciliação do manipulador/actor dentro da estrutura do espectáculo, uma personagem, presente. Já tinha abordado esta questão quando a formação com Neville Tranter pois é uma das premissas do stuffed puppets que o manipulador é um actor que em cena é submisso à marioneta, ou seja, perante a sua presença, ele coloca-se em segundo plano, tendo a mestria de ganhar uma nova dinâmica sem a presença das mesma, neste sentido ganhamos uma personagem com densidade, com duas facetas distintas em relação ás marionetas que manipula, mas será esse o caminho.
Este é um aspecto fundamental que não é muitas vezes tomado em conta mas que em meu ver deveria ser o ponto de partida para com qualquer criação que envolva marionetistas e marionetas.